O alto consumo de carbono da humanidade poderá arruinar a saúde humana, na medida em que um planeta em aquecimento só aumenta a possibilidade de ocorrências meteorológicas extremas, doenças e desnutrição em todo o mundo, como nunca antes.
Durante muitos séculos a queima de combustíveis fósseis trouxe benefícios à humanidade. O desenvolvimento industrial e a urbanização significaram crescimento econômico, melhor nutrição, maior renda e serviços de saúde aprimorados. Hoje as pessoas vivem mais e levam uma vida mais confortável do que antes.Porém, os nossos netos talvez não tenham a mesma sorte. O consumo desenfreado de combustível fóssil é a maior ameaça à saúde humana neste século. Estimular uma economia movida a carbono, assim como dar esteróides a um atleta, é um grande risco para a saúde no longo prazo.Esse é o terrível dilema enfrentado pelos países emergentes cujas populações são as mais vulneráveis à mudança climática. Compreensivelmente, eles buscam melhorar a saúde pública por meio de um maior desenvolvimento. Porém, nesse processo eles poderão angariar problemas de saúde para as futuras gerações.A mudança climática já mata mais de 300.000 pessoas por ano, afirma o Fórum Humanitário Global (GHF), e essa quota anual vai atingir meio milhão em 2030. Mesmo esses números, provavelmente, subestimam a ameaça por causa das complexas interações entre clima, meio ambiente, pobreza e saúde.Clima radical Nos últimos dez anos – a década mais quente já registrada – ocorreram em média 350 desastres por ano relacionados ao clima, segundo a Cruz Vermelha, contra cerca de 200 desastres por ano na década de 1990.Temperaturas em elevação significam ondas de calor, como a que em 2003 matou mais 30.000 pessoas, sobretudo idosos europeus, e elas se tornarão comuns na metade deste século.Não só o envelhecimento das populações, mas também a urbanização crescente só faz piorar a situação. O efeito de ‘ilha de calor urbana’¹ fez muitas vítimas em 2003, quando as temperaturas noturnas permaneceram elevadas na França e na Alemanha, impossibilitando o organismo dos idosos de se recuperar.O desgaste pelo calor, assim como problemas cardiovasculares e respiratórios farão muito mais vítimas, à medida que os níveis de calor e de smog² se elevarem em conjunto. Vai ser pior ainda para as pessoas vulneráveis em países mais quentes do terceiro mundo.
Um planeta em aquecimento é sinônimo de maior frequência e intensidade das tempestades e inundações destruidoras. Estas não apenas matam e ferem pessoas diretamente, mas também espalham disenteria e cólera, pois a população é forçada a beber água contaminada.Os pobres, que vivem em moradias precárias e sem acesso aos serviços de saúde, são mais vulneráveis. A crescente urbanização no mundo em desenvolvimento muitas vezes expõe as pessoas a ainda mais riscos de saúde relacionados ao clima, tais como deslizamentos de terra e inundações. Enquanto o furacão Katrina fez cerca de 1.800 vítimas, o Ciclone Nargis que atingiu Mianmar matou cerca de 150 mil pessoas.Propagação de Doenças Doenças transmitidas por mosquitos, tais como malária, dengue e o vírus do Nilo Ocidental poderiam prosperar sob as condições mais quentes e úmidas que irão se instalar em certas áreas devido à mudança climática – por exemplo, nas terras altas da África oriental. O ar mais quente retém mais umidade, favorecendo transmissores de doenças como os mosquitos.”Mordidas de mosquitos são mais frequentes em altas temperaturas, mas o mais importante é que as temperaturas elevadas aceleram o desenvolvimento do parasita da malária dentro do mosquito”, explica Diarmid Campbell-Lendrum da organização Mundial da Saúde (OMS).Os mosquitos poderiam ser dizimados nas áreas que se tornarem mais secas devido à mudança de clima, como o Sahel. Porém, no geral, um aumento de 2 graus centígrados na temperatura, provavelmente fará com que mais 40 a 60 milhões de pessoas sejam expostas à malária na África, segundo o Relatório Stern.³
Doenças propagadas pela água, como cólera, disenteria e febre tifóide, poderiam aumentar, diz Campbell-Lendrum, porque as bactérias se multiplicam mais rápido em temperaturas mais quentes. Elas também podem se tornar mais preponderantes em áreas onde a escassez de água e o fluxo reduzido dos rios contribuem para o surgimento de algas. Se os níveis de água baixarem, o risco de contaminação dos rios e aqüíferos vai aumentar, enquanto as enchentes podem ser igualmente perigosas se os contaminantes forem levados para as nascentes de água.Ainda mais preocupante, diz Anthony Costello, Diretor do Institute for Global Health (IGH) da Universidade de Londres (UCL), é a possibilidade de que uma reviravolta no equilíbrio ecológico possa desencadear infecções e vírus desconhecidos. “Quando eu me diplomei em medicina, se você me dissesse que haveria uma nova doença sexualmente transmissível que iria matar 50 milhões de pessoas, eu não teria acreditado. Mas aí estão o HIV e a AIDS.”A próxima pandemia mortal poderia ser resultante da destruição do ecossistema pelo homem, pois estamos extinguindo espécies e reduzindo a biodiversidade. “Algumas espécies são ‘bons’ hospedeiros de doenças, outras não”, explica Costello. “Se perdermos mais hospedeiros ruins do que bons hospedeiros, o risco de transmissão de doenças aumenta.”Desnutrição As enfermidades proliferam não só com as temperaturas em ascensão, mas também por causa da fome. Corpos mal nutridos têm sistemas imunológicos mais fracos e são mais suscetíveis a infecções e vírus, e mães famintas dão à luz bebês fracos e abaixo do peso.A mudança climática vai dificultar a produção de alimentos suficientes para alimentar de forma adequada a crescente população mundial. O resultado das colheitas em todo o mundo em desenvolvimento irá, em média, diminuir à medida que a água se tornar escassa. Isso gera insegurança alimentar, mas não pelas razões óbvias.”Fome e desnutrição estão mais vinculadas aos preços dos alimentos do que à disponibilidade de alimentos, explica Costello. “Mesmo pequenas mudanças nas colheitas podem elevar os preços verticalmente. Segundo a UNICEF, a fome já atinge o maior nível em 40 anos no sudeste da Ásia. “Os preços dos alimentos subiram junto com os preços do petróleo, mas não acompanharam a sua queda.”Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que quase 60% dos 10 milhões de crianças com menos de 5 anos que morrem todo ano sofreram de desnutrição. A alteração do clima poderia causar, anualmente, a morte de até 250 mil crianças a mais no sul da Ásia e na África subsaariana, calcula o Relatório Stern.Para os ricos, a mudança de clima vai tornar a vida mais desagradável, desconfortável e cara. Para os pobres, ela poderá significar a diferença entre vida e morte.editor: James Tullochdata da edição:13/07/2009¹ Ilha de calor urbana (ICU): designação do aquecimento climático maior nas áreas urbanas em relação às áreas rurais vizinhas. O efeito ‘ilha de calor’ nos países frios ou temperados é mais marcado no período noturno. ² A palavra “Smog” é uma junção de duas palavras da língua inglesa: “smoke” e “fog”, respectivamente, fumaça e neblina. Smog é um fenômeno que ocorre principalmente nas grandes cidades, se caracterizando como a mistura de gases, fumaça e vapores de água, formando uma grande massa de ar.
Um planeta em aquecimento é sinônimo de maior frequência e intensidade das tempestades e inundações destruidoras. Estas não apenas matam e ferem pessoas diretamente, mas também espalham disenteria e cólera, pois a população é forçada a beber água contaminada.Os pobres, que vivem em moradias precárias e sem acesso aos serviços de saúde, são mais vulneráveis. A crescente urbanização no mundo em desenvolvimento muitas vezes expõe as pessoas a ainda mais riscos de saúde relacionados ao clima, tais como deslizamentos de terra e inundações. Enquanto o furacão Katrina fez cerca de 1.800 vítimas, o Ciclone Nargis que atingiu Mianmar matou cerca de 150 mil pessoas.Propagação de Doenças Doenças transmitidas por mosquitos, tais como malária, dengue e o vírus do Nilo Ocidental poderiam prosperar sob as condições mais quentes e úmidas que irão se instalar em certas áreas devido à mudança climática – por exemplo, nas terras altas da África oriental. O ar mais quente retém mais umidade, favorecendo transmissores de doenças como os mosquitos.”Mordidas de mosquitos são mais frequentes em altas temperaturas, mas o mais importante é que as temperaturas elevadas aceleram o desenvolvimento do parasita da malária dentro do mosquito”, explica Diarmid Campbell-Lendrum da organização Mundial da Saúde (OMS).Os mosquitos poderiam ser dizimados nas áreas que se tornarem mais secas devido à mudança de clima, como o Sahel. Porém, no geral, um aumento de 2 graus centígrados na temperatura, provavelmente fará com que mais 40 a 60 milhões de pessoas sejam expostas à malária na África, segundo o Relatório Stern.³
Doenças propagadas pela água, como cólera, disenteria e febre tifóide, poderiam aumentar, diz Campbell-Lendrum, porque as bactérias se multiplicam mais rápido em temperaturas mais quentes. Elas também podem se tornar mais preponderantes em áreas onde a escassez de água e o fluxo reduzido dos rios contribuem para o surgimento de algas. Se os níveis de água baixarem, o risco de contaminação dos rios e aqüíferos vai aumentar, enquanto as enchentes podem ser igualmente perigosas se os contaminantes forem levados para as nascentes de água.Ainda mais preocupante, diz Anthony Costello, Diretor do Institute for Global Health (IGH) da Universidade de Londres (UCL), é a possibilidade de que uma reviravolta no equilíbrio ecológico possa desencadear infecções e vírus desconhecidos. “Quando eu me diplomei em medicina, se você me dissesse que haveria uma nova doença sexualmente transmissível que iria matar 50 milhões de pessoas, eu não teria acreditado. Mas aí estão o HIV e a AIDS.”A próxima pandemia mortal poderia ser resultante da destruição do ecossistema pelo homem, pois estamos extinguindo espécies e reduzindo a biodiversidade. “Algumas espécies são ‘bons’ hospedeiros de doenças, outras não”, explica Costello. “Se perdermos mais hospedeiros ruins do que bons hospedeiros, o risco de transmissão de doenças aumenta.”Desnutrição As enfermidades proliferam não só com as temperaturas em ascensão, mas também por causa da fome. Corpos mal nutridos têm sistemas imunológicos mais fracos e são mais suscetíveis a infecções e vírus, e mães famintas dão à luz bebês fracos e abaixo do peso.A mudança climática vai dificultar a produção de alimentos suficientes para alimentar de forma adequada a crescente população mundial. O resultado das colheitas em todo o mundo em desenvolvimento irá, em média, diminuir à medida que a água se tornar escassa. Isso gera insegurança alimentar, mas não pelas razões óbvias.”Fome e desnutrição estão mais vinculadas aos preços dos alimentos do que à disponibilidade de alimentos, explica Costello. “Mesmo pequenas mudanças nas colheitas podem elevar os preços verticalmente. Segundo a UNICEF, a fome já atinge o maior nível em 40 anos no sudeste da Ásia. “Os preços dos alimentos subiram junto com os preços do petróleo, mas não acompanharam a sua queda.”Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que quase 60% dos 10 milhões de crianças com menos de 5 anos que morrem todo ano sofreram de desnutrição. A alteração do clima poderia causar, anualmente, a morte de até 250 mil crianças a mais no sul da Ásia e na África subsaariana, calcula o Relatório Stern.Para os ricos, a mudança de clima vai tornar a vida mais desagradável, desconfortável e cara. Para os pobres, ela poderá significar a diferença entre vida e morte.editor: James Tullochdata da edição:13/07/2009¹ Ilha de calor urbana (ICU): designação do aquecimento climático maior nas áreas urbanas em relação às áreas rurais vizinhas. O efeito ‘ilha de calor’ nos países frios ou temperados é mais marcado no período noturno. ² A palavra “Smog” é uma junção de duas palavras da língua inglesa: “smoke” e “fog”, respectivamente, fumaça e neblina. Smog é um fenômeno que ocorre principalmente nas grandes cidades, se caracterizando como a mistura de gases, fumaça e vapores de água, formando uma grande massa de ar.
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